Saturday, April 16, 2005

O Lanho Vermelho

Leu durante uma hora, ouvindo distraidamente o ruído das suas risadas, e os chapes quando eles mergulhavam. Depois, num súbito impulso, levantou-se, agarrou nos seus opúsculos e num molho de velas, e subiu a escada para o seu quarto, agora cheio de sombras rosadas reflectidas pelo gigantesco armário de parede com o seu espelho a corpo inteiro.

Constance sentou-se à beira da cama e dispôs as velas no chão de modo a projectarem a luz para diante e para cima na direcção dela. Depois despiu-se e sentou-se à borda da cama, abrindo as pernas o mais que podia e fitando intensamente a racha entre as pernas que se reflectia no espelho. Com as mãos afastou os dois lábios escarlates da vulva e ficou assim, a olhar esgazeada para o lanho vermelho entre as coxas brancas – um lanho horrível que dir-se-ia rasgado pelo golpe tosco de um sabre. A vagina, a vulva – que horror contemplar tão primitivo e medonho membro! Se um homem visse aquilo, caramba, enlouqueceria de repugnância! Soltou um pequeno soluço, como uma ave atingida no peito pelo chumbo em pleno voo. «A minha cona», disse em voz baixa, não desviando os olhos dela. «Oh, meu Deus, quem poderia ter concebido semelhante coisa?» Sentia-se tomada de um terror bárbaro ao olhar para o lanho vermelho.

Ele nunca mais a quereria se alguma vez vislumbrasse aquela terrível fístula sangrenta entre as suas pernas tão bonitas e bem feitas. Puxou-a para trás, escancarando ainda mais essa estúpida boca vermelha até fazê-la assumir uma forma oval com a rede himenal ainda a cruzá-Ia – parecia a bocarra aberta de uma baleia num quadro de Breughel.

Lawrence Durrel
IN. «CONSTANCE OU PRÁTICAS SOLITÁRIAS»

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