Tuesday, October 25, 2005

N o s f e r a t u

Dia nublado. A viúva e a solteirona conversam em banco de jardim. Pára diante delas.
- As senhoras sabem me informar onde fica a rua Dois de Dezembro?
A viúva não se lembrava. A solteirona disse que ficava no Catete. Quando jovem e linda, teve amante naquela rua.
- Catete ou Flamengo?
- É Catete mesmo, tenho certeza.
- E isso aqui - abre a capa de chuva e exibe o membro ereto - pode me informar o que é?
A viúva fica paralisada, pensa que vai morrer. A solteirona se afunda em memórias muito antigas.
“O Vingador volta a atacar. Tome isso!”
Duas manipuladas e ejacula na bolsa da viúva. Vampiro que se alimenta de sustos.
Em casa, registra no caderno preto mais duas vítimas.
Dia seguinte, céu ainda cheio de nuvens. Agindo no outro lado da cidade, questão de segurança. Há duas horas no matagal. Dói a virilha, muito tempo com ereção. Ao longe avista dona de casa com sacolas de compras. O coração descompassa.
Aguarda.
- Com licença, pode me dizer onde fica a rua Uruguai?
- Desculpe, mas não conheço.
- E isso aqui, conhece? - abre a capa e mostra o pênis ereto amarrado com barbante grosso.
A mulher fica tonta. Ele segura uma sacola. Ela senta no chão. Não consegue gritar, a pressão caiu. Desmaia. Ele se ajoelha e aperta o pênis com as mãos. Ejacula no rosto dela.
“O verdadeiro Vingador. Primeiro e único.”
Pensa no caderno preto. Tem que ser um registro muito especial. Foi um dos melhores dias dos últimos anos. Ficaria um tempo sem agir.
Dia de sol. A primavera chegou mais cedo. Não agia há cinco semanas. Trocou a capa de chuva por um paletó. Vestia terno e gravata. Um homem distinto.
Parou na pracinha atrás do colégio de freiras. Aproximou-se das três meninas. Uma usava tranças.
- Você é a Carlinha, filha do Doutor Osvaldo?
- Não. O nome do meu pai é Alfredo.
- E isso aqui - abre o paletó e exibe o membro com um pequeno cinto de couro em volta dos testículos, o que o tornava ainda mais intumescido - você sabe dizer o nome?
As filhotinhas correm enquanto ele suja a calça e geme.
À noite, tudo no caderno.

Chuva fina de primavera. Gosta mais de capa de chuva que das outras roupas. Vai ao parquinho perto do colégio público. Muita menina matando aula. Pára na frente de um grupo.
- Alguma de vocês pode me dizer onde pego ônibus pra Botafogo?
- Não - responde a que fumava. As outras três balançaram a cabeça. Tinham entre dez e doze anos.
- Podem me dizer o que é isso? - abre a capa. O pênis está para fora das calças, incluindo os testículos.
Voam assustadas as pombas. Apenas uma fica. Olha o membro com curiosidade enquanto solta fumaça de cigarro. A ereção vai desaparecendo.
- Por que está amolecendo?
- Porque você ficou olhando, merda!
- Se não era para olhar, por que mostrou?
“A cruel estaca de madeira perfura meu coração sem piedade, é o fim do Vingador.”
O vampiro morre se decompondo sob o sol.

Jorge Brennad Jr
http://www.outrasletras.com.br/perversoes/conto.htm

0 Comments:

Post a Comment

<< Home