Thursday, April 21, 2005

Ressoou por dentro com um harpejo...

Na noite do seu aniversário, cantei a Delgadina a canção completa e beijei-a por todo o corpo até ficar sem fôlego; a espinha dorsal, vértebra por vértebra, até às nádegas lânguidas, a zona lunar, a do seu coração inesgotável.
À medida que a beijava aumentava o calor do seu corpo e exalava uma fragrância rústica. Ela respondeu-me com vibrações novas em cada polegada da sua pele, e em cada uma encontrei um calor diferente, um sabor próprio, um gemido novo, e toda ela ressoou por dentro com um harpejo e os seus bicos dos seios abriram-se em flor sem lhes tocar.
Começava a adormecer pela madrugada quando senti uma espécie de rumor de ...

Gabriel García Márquez
IN. «MEMÓRIA DAS MINHAS PUTAS TRISTES»

Sunday, April 17, 2005

Música de Cama

I
Saber como é o teu sexo
no centro da tua alma

e como dentro do sexo
continuas a ser alma

Esta a sede do meu sexo
a fome da minha alma


X
Sobre mim cavalgas
cingindo-me os flancos
Colhes à passagem
a luz do instante
De dentes cerrados
ondulas avanças
retesas os braços
comprimes as ancas
Depois para a frente
inclinas-te olhando
o que entre dois ventres
ocorre entretanto
e o próprio galope
em que vais lançada
Que lua te empolga
Que sol te embriaga
Lua e sol tu és
enquanto cavalgas
amazona e égua
de espora cravada
no centro do corpo
Centauresa alada
com os seios soltos
como feitos de água

Queria bebê-los
quando mais te dobras
Os cabelos esses
sorvê-los agora
Mas de cada vez
que o rosto aproximas
já é outra a sede
que me queima a língua
A de nos teus olhos
tão perto dos meus
descobrir o modo
de beber o céu

David Mourão Ferreira
MÚSICA DE CAMA

Saturday, April 16, 2005

O Lanho Vermelho

Leu durante uma hora, ouvindo distraidamente o ruído das suas risadas, e os chapes quando eles mergulhavam. Depois, num súbito impulso, levantou-se, agarrou nos seus opúsculos e num molho de velas, e subiu a escada para o seu quarto, agora cheio de sombras rosadas reflectidas pelo gigantesco armário de parede com o seu espelho a corpo inteiro.

Constance sentou-se à beira da cama e dispôs as velas no chão de modo a projectarem a luz para diante e para cima na direcção dela. Depois despiu-se e sentou-se à borda da cama, abrindo as pernas o mais que podia e fitando intensamente a racha entre as pernas que se reflectia no espelho. Com as mãos afastou os dois lábios escarlates da vulva e ficou assim, a olhar esgazeada para o lanho vermelho entre as coxas brancas – um lanho horrível que dir-se-ia rasgado pelo golpe tosco de um sabre. A vagina, a vulva – que horror contemplar tão primitivo e medonho membro! Se um homem visse aquilo, caramba, enlouqueceria de repugnância! Soltou um pequeno soluço, como uma ave atingida no peito pelo chumbo em pleno voo. «A minha cona», disse em voz baixa, não desviando os olhos dela. «Oh, meu Deus, quem poderia ter concebido semelhante coisa?» Sentia-se tomada de um terror bárbaro ao olhar para o lanho vermelho.

Ele nunca mais a quereria se alguma vez vislumbrasse aquela terrível fístula sangrenta entre as suas pernas tão bonitas e bem feitas. Puxou-a para trás, escancarando ainda mais essa estúpida boca vermelha até fazê-la assumir uma forma oval com a rede himenal ainda a cruzá-Ia – parecia a bocarra aberta de uma baleia num quadro de Breughel.

Lawrence Durrel
IN. «CONSTANCE OU PRÁTICAS SOLITÁRIAS»

Tuesday, April 12, 2005

No principio...

Tudo começa no princípio! La Palisse não diria melhor mas como começou o erotismo?
Penso que o Genesis nos explica isso: Quando Adão e Eva colocaram a parra sobre as vergonhas só para tornarem mais excitante a hipótese da sua queda.
Cai, não cai... Como era divertida a vida no Paraíso