Estais a Ir pelo Caminho Errado
Em quase dez anos de vida no Paço de São Martinho, era a primeira vez que a rainha impunha uma desconcertante medida cautelar, espécie de recolher obrigatório, que os mais espertos, e não eram poucos, facilmente perceberam. Perceberam e calaram.
Por volta da meia-noite, hora a que os residentes dormiam já, Leonor saiu silenciosamente do quarto para ir, encontrar-se com o ansioso João Fernandes Andeiro nos aposentos dele.
- Senhor conde – sussurrou, logo que abriu o ferrolho da porta.
- Entrai, bendita dama, entrai!
Com as mãos a tremer e o coração a pulsar descontroladamente, o conde lançou-se na direcção da rainha, segurou-a com força pela cintura e esmagou-lhe a boca com um beijo antes de a conduzir a um canto do quarto – o sítio mais escuro da divisão.
- Morreria de pranto se hoje não me acontecesse vossa-alteza.
Sorridente, Leonor Teles tocou os lábios do homem com a ponta de um dedo, de modo a sugerir-lhe que se mantivesse discreto e calado. E alisou-lhe os cabelos despenteados.
Por momentos, João Fernandes Andeiro ficou sem saber como actuar. Apeteceu-lhe levá-la logo para a cama, despi-la e amá-la com a intensidade com que sempre a sonhara, mas teve medo que ela reagisse mal a tanta urgência. Por isso, e porque era um homem previdente e experimentado, deu tempo ao tempo, ocupou uma cadeira e, com a delicadeza acostumada, sentou a rainha no colo. Durante longos minutos, os dois amantes enterneceram-se em demorados beijos e regaladas carícias. De vez em quando ele deixava escapar um gemido, esticava e encolhia as pernas, enquanto ela, ia ajustando as ancas à forma do pousadouro.
- Que estais a fazer, senhor conde?
João Fernandes Andeiro tinha levantado já o volumoso vestido da rainha e feito descair as suas próprias calças até aos pés.
- Oh, formosa senhora!
- Calai-vos, por amor de Deus! - aconselhou ela, ao mesmo tempo que voltava a ajeitar a posição do seu corpo contra o regaço rígido do amante.
O silêncio nos aposentos era então quase absoluto.
- Cuidado, senhor conde, cuidado. Estais a ir pelo caminho errado – queixou-se a soberana, a certa altura.
Indiferente ao aviso, o galego prosseguiu o seu propósito, segurando firmemente as nádegas da rainha de modo a facilitar o respectivo ajuste e impedir que ela se levantasse a meio do trajecto.
- Farei a coisa devagar – prometeu, num tom murmurado.
Apoiada com uma mão no joelho do homem e com a outra num móvel do quarto, junto à parede, Leonor Teles esforçava-se para controlar a dor e o prazer. Só que o prazer era infinitamente menor que a dor. Então pegou na ponta do vestido e mordeu-o com força.
- Estais a magoar-me, gentil senhor. Tirai, tirai isso que desfaleço.
- Pronto, alteza – murmurou o conde, feliz e aliviado.
- O que tinha a doer, já doeu.
In. «Rosa Brava»